O site brasileiro Portal Famosos fez uma resenha do novo álbum de Selena Gomez, Revival, onde destaca a evolução da cantora no decorrer dos anos, além de enaltecer várias músicas, como Body Heat, que foi comparada a Let The Groove Get In, de Justin Timberlake, por seu ritmo latino que nos faz querer “evocar férias ensolaradas no México e causar danos permanentes a nossos quadris”. Leia:
“Re-afirmativo. Assertivo. Incendiário.”
E não é segredo que, geralmente, essas good girls gone bad são oriundas de emissoras destinadas ao público infantil onde, junto de seus fãs, cresceram e automaticamente adotaram aquela repressora fama de conservadoras. Como exemplos clássicos de rebelião, temos Britney Spears e Christina Aguilera, que já no começo do século desacataram o passado como colegas no Mickey Mouse Club e apelaram para as massas mostrando muita pele e sensualidade em pontos decisivos de suas carreiras; Miley Cyrus e Demi Lovato fizeram o mesmo nos últimos anos, e, mesmo tendo vozes ativas para representar seus direitos de expressão não importa a década, mulheres são, querendo ou não, sempre as mais afetadas desta indústria. Se não tiram as roupas são julgadas de santinhas, mas se tiram são automaticamente taxadas de “vadias” ou termos piores, e todas buscam, então, encontrar esse meio-termo, ou talvez meio-termo nenhum, para agradar ao público que realmente interessa: os poucos capazes de apreciar uma história e ver muito mais além de apenas seios ou bundas em exposição.
Selena Gomez, que começou como uma atriz bobalhona em produções como Feiticeiros de Waverly Place e Programa de Proteção Para Princesas (ambos da Disney), era a última princesinha pop de quem esperávamos algo como Revival: sua música sempre foi bastante genérica no geral e sua carreira musical nunca das mais substanciais, até quando ainda adotava a banda The Scene como adição ao nome artístico. Faltava algo a mais para que a voz nem um pouco impressionante por trás de hits como Come & Get It e Love You Like a Love Song pudesse ser levada a sério, e parece que, desta vez, ela finalmente atingiu, a tempo, um esperado pico capaz de nos fazer repensar todos os julgamentos prévios e enxergá-la com outros olhos.
Primeiro álbum da artista longe de sua gravadora-mãe, a Hollywood Records, Revival é ostensivamente direto e já de cara anuncia seu conceito:
“Eu mergulho no futuro, mas estou cega pelo sol.
Eu renasço a todo momento, então quem sabe o que eu vou me tornar?”
A faixa-título é nosso convite ao resto do material e a salvação pessoal de Gomez, que teve um par de anos turbulentos, incluindo um tratamento de lúpus que envolveu quimioterapia e o término público de uma relação de três anos. Ela admite que foi “doloroso”, mas se mostra mais que grata pela experiência, que não é apenas sobre sua sobrevivência, mas sim superação.
A injeção de ânimo e leveza continua em Kill Em With Kindness, que apesar do título bizarro coloca em prática todos os ensinamentos que a moça propagou este ano (você precisa ser gentil, mesmo que todos à sua volta sejam cruéis) e é uma evolução das faixas dance um tanto quanto medíocres do Stars Dance (2013). Com todos esses synths e os assovios rítmicos, talvez a canção pudesse ter funcionado como single no começo do ano.
“Your lies are bullets, your mouth’s a gun. No war and anger was ever won.”
Hands to Myself é onde temos certeza que a anteriormente subestimada cantora virou de vez a página. Uma prima mais uptempo de Good For You, a mais nova pérola de Max Martin tem Gomez usando o timbre desfavorecido, mas único, a seu favor e questionando por quê seguraria a mão boba sendo que não quer. As rádios rítmicas dos Estados Unidos vão adorar esta aqui.
Same Old Love é o segundo single do registro e uma de suas músicas mais díspares. Com composição da rocker girl Charli XCX (I Love It, Boom Clap), que aparece não creditada como auxiliar vocal, e produção dos cadenciados Stargate e Benny Blanco, Love é uma resposta direta àquele rolo que nunca vai pra frente, e também nunca termina, mas consegue deixar um destroço emocional daqueles no caminho. Seria, depois de The Heart Wants What It Wants, outra resposta menos direta e mais resoluta a Justin Bieber?
“I’m so sick of that same old love. That sh*t it tears me up.”
“Você não sabe me amar quando está sóbrio”, lamenta Selena na baladinha eletrônica Sober, onde continua lidando com sentimentos conflituosos, que não parecem tão difíceis assim quando há álcool envolvido na conversa. O teor de submissão absoluta continua em Good For You, uma colaboração, e a única do álbum, com o rapper A$AP Rocky. Primeira surpresa que tivemos desta nova era e um midtempo enevoado que nos surpreende tanto pela manipulação de vocais quanto pela sensualidade subentendida, a música pode não ter se beneficiado de um videoclipe excessivamente minimalista, mas sozinho o rogo de Selena pela satisfação carnal a faz soar mais auto-confiante que nunca.
Única balada de piano em todo o CD, Camouflage flagra Gomez numa posição realmente íntima, admitindo o que sabemos, mas sempre preferimos ignorar: nada realmente dura para sempre, e sentimentos podem ser traiçoeiros. As aulas de canto também fizeram bem à artista, que parece ter finalmente encontrado sua voz interior. Me & The Rhythm é uma faixa disco glamourosa e pulsante que promete curar corações partidos na pista de dança, e também uma das últimas a serem adicionadas ao conjunto.
Survivors é outro relato de sobrevivência não tão impressionante quanto Revival, mas tão antêmico quanto, enquanto Body Heat serve aquele tempero latino que Gomez parece ter receio em deixar aflorar. Como Let the Groove Get In, de Justin Timberlake, esta é capaz de evocar férias ensolaradas no México e causar danos permanentes a nossos quadris. Créditos: para variar, a produção é do maravilhoso time por trás do Rock Mafia. Rise conclui, então, a edição Standard com muito alto astral e positivismo e enterra de vez os odiadores de plantão:
“Então, até quando seus ossos parecerem pesados e for difícil colocar um sorriso nesse rosto perfeito, você ainda pode achar sua paz interior… Feche os olhos, e você estará voando para outra dimensão.”
Me & My Girls é uma explosão de girl power que parece fazer alusão direta a Spring Breakers, um dos projetos mais ousados dos quais Gomez fez parte, e a única declaração de independência feminina do CD. Nobody traz de volta o R&B pesado do início do álbum e as metáforas dos amores ímpares, enquanto em Perfect a ciumenta protagonista se enrola num triângulo amoroso – “talvez eu deva me parecer mais com ela” – e é capaz de abdicar da própria dignidade em prol do prazer do outro. Seria esta mais uma exemplificação do amor obsessivo com o qual esbarramos no primeiro single?
Outta My Hands (Loco) é aquela música latina sassy que parece um single descartado da Becky G. e que ao álbum em si não acrescenta muito, mas serve para dar uma aliviada da infusão de outros ritmos urbanos. Por fim chegamos em Cologne, uma balada clímax sobre orgasmo e necessidades emocionais – “você me mantém quente e aquecida, mesmo quando estou completamente sozinha, usando nada além do seu perfume” – que valoriza a competência vocal da artista e mostra o quanto ela realmente evoluiu liricamente.
O jogo virou mesmo.
Revival pode ser um álbum que não foge aos padrões considerados comerciais para a indústria, mas para quem conhece a Selena de antes e a está ouvindo agora, ele realmente soa como o re-afirmativo renascimento prometido. Temos a batida, e além dela agora também temos letras relevantes, algo de que sentíamos falta antes, e pela primeira vez em toda sua carreira, podemos dizer que ouvimos um verdadeiro álbum de Selena Gomez, e não apenas outra coleção aleatória de hits em potencial feita para as paradas. Isso nos faz desejar, de certa forma, que ela tivesse dado seu grito de independência (bem) mais cedo, mas o que importa é que finalmente estamos aqui, livres de mordaças e podendo discutir sexo, traições e, claro, voltas por cima, e o que temos a concluir a respeito disso é: a vida, com todos os seus altos e baixos, é realmente belíssima.
E Selena soube capturar essas nuances muito bem.
NOTA: 87/100