A vilã “Arsyn” de Selena Gomez talvez tenha sido a mais inesperada de todos os personagens exagerados adotados para a gangue de celebridades do clipe de Taylor Swift, “Bad Blood”. “Nefarius” não é uma palavra que vem a mente quando vemos Gomez sentada na cobertura do Peninsula Beverly Hills em um dia quente de Setembro, seu cabelo preso e seus cílios volumosos. Mas, então, ao falar sobre o que a motivou para seu novo álbum, ela declara: “O ódio me motivou”.
Gomez, trajando uma camiseta da turnê The Wall de Roger Waters sobre uma calça de couro e um salto alto, discutiu sobre os sites de fofoca (“O Hollywood Life é o pior”) que a perseguem diariamente. “Eu sou legal pra caralho com todos, e todos são tão cruéis comigo. Eu trabalho desde os 7 anos. Sou embaixadora da UNICEF desde os 17. É decepcionante ver que eu me tornei uma história dos tabloides. Tirou tudo o que eu amava nesta indústria”.
Aos 23 anos, após alguns difíceis anos que trouxeram grandes mudanças para sua família, sua vida amorosa, sua saúde e carreira, Gomez está em uma missão para comandar sua narrativa. O título de seu segundo CD solo, Revival, não é apenas um conceito de marketing. Também marca seu término com o império da Disney que desenhou muito de sua história, desde torna-la a estrela na série teens Os Feiticeiros de Waverly Place até os cinco CDs com a gravadora do Mickey, Hollywood Records, que venderam quase 3 milhões de cópias nos Estados Unidos, de acordo com a Nielsen Music. Revival chega no dia 9 de Outubro pela Interscope, o que faz de Gomez colega de Ellie Goulding, M.I.A e Madonna, todas que deram duro em sua luta pelo pop.
O primeiro single “Good For You” é realmente diferente, com um ambiente estonteante e Gomez sussurando, “Let me show you how proud I am to be yours/Leave this dress a mess on the floor.” A canção é o seu maior sucesso até o momento, #3 e subindo no Billboard Hot 100. E também é sua primeira colaboração com um rapper, A$AP Rocky, cujos versos tiram sarro de seu passado de boa menina.
“Ela está desenvolvendo sua sensualidade”, disse o rapper do Harlem, que não conhecia Gomez até ouvir o demo da canção. “Eu não acho que ela está lá 100%. Ela provavelmente só transou com Justin Bieber, se muito isso”, ele brinca. “Mas sinceramente, ela não estava buscando um hit #1. Ela fez isso para se livrar dessa imagem. Isso é corajoso.”
Gomez sabe tem sido difícil se livrar de sua identidade, e em muitas vezes sabotada por seu romance de três anos com Bieber. Enquanto o namoro terminou há mais de um ano, o relacionamento segue gerando manchetes, incluindo aquelas sobre seu nome pintado em grafite nas paredes de um clipe recente do cantor e as lágrimas dele após a apresentação no MTV Video Music Awards 2015 que seriam supostamente para ela.
Mesmo que ela prefira não falar sobre ele, ela ainda tem coisas boas a dizer sobre o Biebs, que também está amadurecendo. “Eu tenho orgulho dele”, diz Gomez, enquanto toma água gelada com limão. “Isso é o que sempre vi nele, por isso que eu sempre acreditei nele.” Eles estão se falando? “Estamos bem, mas não.” Ela se inspira na evolução da carreira dele? “Não. Esta é a minha hora. Eu mereço isso. Eu fiz por merecer. Isto sou eu por inteira.”
Gomez está claramente cansada de ser definida pelos homens ao seu redor. Seu cansaço se estende para aqueles que assumem que “Good For You” é submissa ao personagem do homem. No clipe da música, ela canta e se acaricia no chuveiro, parecendo estar feliz por ter um tempo a sós. “Eu não queria nenhum homem lá”, ela diz. “É sobre como eu me sinto. Sim, é sexual e cativante, mas é isso que faz uma mulher. Nós temos isso a mais do que os homens. Eu amo olhar as mulheres. Eu preferiria olhar para uma mulher do que para um homem.”
Diferente de sua antiga colega de Barney e Amigos Demi Lovato, que lutou com seus demônios para se tornar a princesa da auto ajuda do pop, e sua colega de Disney Channel Miley Cyrus, que transformou os comentários sobre seu comportamento em sua própria teoria de amor livre, pop psych e abuso de glitter, a luta de Gomez com as expectativas não tem sido óbvia. “Se eles acham que eu ainda sou a boa menina, ótimo”, ela diz, levantando os dedões sarcasticamente. Na verdade, ela se identifica fortemente com suas colegas. “Não há uma grama em mim que não acha que o que quer que elas estejam fazendo é certo”, diz Gomez. “Eu também fui julgada para se quer chegar lá. Eu as compreendo, de verdade.”
E depois, é claro, também existe sua amiga mais próxima desde 2008, Swift, que se livrou de sua imagem de “louca por homens” para tornar-se uma líder de jovens mulheres de sucesso e fabulosas. Gomez compareceu ao VMA fazendo parte desse time de garotas. “A Taylor faz eu me sentir empoderada, como se eu pudesse confiar em novas pessoas”, ela diz. “Todas aquelas garotas são tão legais. Nós corremos por aí tirando fotos, trocando de vestidos, dançando. Coisas clichê de meninas, mas foi legal. A forma como ela se importa com mulheres é tão determinado. Está me tirando do meu casulo.””
Não que Gomez seja uma estranha ao mundo fora de sua bolha. Em Spring Breakers, de 2012, no filme, originalmente apenas uma arte de quadrinhos, dirigido por Harmony Korine, ela interpretou jovem desobediente de biquíni. “Isso [o papel] fez eu querer trabalhar com ela”, diz o CEO da Interscope John Janick. “Eu fiquei impressionado. Eu disse, ‘Escute, o que as pessoas veem de fora, há muito mais dentro’.” Realmente, Gomez lista como seus diretores favoritos David O. Russell, por sua habilidade em “capturar as mulheres de uma forma psicoticamente linda”; David Fincher, porque “eu gosto da ideia de ser torturada mentalmente”; e Damien Chazelle, que dirigiu o brutal filme de 2015, Whiplash. “Eles realmente poderiam tirar algo de mim”, ela diz.
Enquanto isso, “ela está se divertindo sendo a diretora de seus negócios pela primeira vez”, diz a manager de Gomez, Aleen Keshishian, que aponta o papel ativo que Gomez tem tido em sua própria libertação. “Sua ética no trabalho é algo que eu nunca vi. Ela foi a produtora executiva de Revival. Ela co-escreveu metade das músicas. Todo o visual, toda ação de marketing, todas as decisões são dela”.
Uma semana após o almoço em Beverly Hills, Gomez está sentada em um trailer nos fundos do Palace Theatre, em Los Angeles, seu cabelo está sendo enrolado enquanto uma assistente a maquia. Os 800 vencedores da promoção esperando dentro do local não sabem, mas após eles assistirem ao trecho de “Same Old Love” (segundo single de Revival, co-escrito por Charli XCX), Gomez irá aparecer de trás do telão para uma performance. A reação deles fará parte da versão final do vídeo, que será lançado online seis dias depois.
“Eu estou sentada nesta cadeira há três horas, estou ficando louca!”, ela diz com uma risada nervosa. Não há nenhuma pausa no horizonte: em menos de 24 horas, Gomez estará em um voo para Miami para participar de uma coletiva de Hotel Transilvânia 2 em um hotel (ela dubla a personagem principal Mavis). “Não tem problema”, ela diz. “Eu me sinto segura com os meus fãs. Eu vou conhecer cada um deles. Eles são a parte boa do que eu faço”. A sessão de meet & greet de hoje irá durar quarto horas, mas Gomez faz isso de pé, usando saltos, e o #RevivalEvent está nos trending topics mais falado do que o show de Madonna no Madison Square Garden, 16 mil posts no Instagram contra 9 mil da Madonna.
Nas publicações de Gomez, há uma mulher usando a mesma camiseta de Water, sua colega de casa Courtney, que trabalha para uma organização sem fins lucrativos; Gomez a conheceu em 2011 em uma festa de Dia dos Namorados. Em Março de 2014, Gomez comprou uma nova casa no subúrbio de Los Angeles, em Calabasas. Sua outra colega de casa é Ashley, uma corretora de imóveis e amiga de Gomez há oito anos. “Duas garotas bem normais. Elas são as minhas melhores amigas”, diz Gomez. Após compartilhar uma casa com sua mãe, seu padastro e seis cachorros, a mansão de 600m² tornou-se uma aventura solitária. Mas quando ela chegou lá, Gomez descobriu que não queria ficar sozinha. “Eu odiava os momentos quietos. Eu sinto que poderia ter vivido com os meus pais para sempre.”
Os pais de Gomez eram adolescentes em Grand Prairie, Texas, quando Selena nasceu em 1992. Seus pais, ambos nascidos nos Estados Unidos, a nomearam após cantora mexicana Selena Quintanilla-Perez, cujo cd de lançamento foi lançada um mês antes. Eles se divorciaram quando ela tinha 5 anos, o dinheiro era curto, sua mãe Mandy Teefey, uma antiga atriz de Dallas, contou que durante um tempo elas viveram do macarrão da loja de um dólar, mas “se ela soubesse que Selena queria ir a um show, eles economizariam”. O primeiro show de Gomez foi o de Britney Spears em 2002, mesmo ano em que ela conquistou seu espaço no Barney. Em 2006, Gomez conseguiu um papel em Feiticeiros, e ela e sua mãe se mudaram para a Califórnia.
“Minha mãe sempre me disse, ‘Se não é divertido para você, acabou. Você pode sair a qualquer momento’”, diz Gomes. Teefey também era sua manager. “Eu nunca senti que tivesse que fazer isso. Eu amava atuar.”
Por quase cinco anos ela interpretou Alex Russo enquanto trabalhava em outros programas da Disney (incluindo Hannah Montana) e filmes como Horton e o Mundo dos Quem. Ela obteve seu diploma de ensino médio através de ensino em casa em 2010, mesmo ano em que ela lançou sua linha de roupas com a Kmart. Mas sua ascensão aparentemente sem esforço para a fama como uma jovem estrela teve sua primeira falha após ela deixar sua adolescência. Em 2013, após lançar Stars Dance, ela cancelou inesperadamente sua turnê, dizendo que ela precisava “passar um tempo comigo mesma”. Em janeiro de 2014, ela deu entrada na Meadows, uma clínica de reabilitação do Arizona. Os tabloides fantasiaram sobre a razão da internação: comprimidos, um coração partido após Bieber. Mas Gomez revela uma manchete menos escandalosa: “Eu fui diagnosticada com [a doença autoimune] lúpus, e tive que passar pela quimioterapia. Foi realmente por isso que eu tive que dar uma pausa. Eu poderia ter tido um derrame.”
Por que sofrer com os rumores, então?
“Eu queria muito dizer, ‘Vocês não fazem ideia. Estou na quimioterapia. Vocês são idiotas’”, ela diz. “Mas eu estava com raiva e até senti a necessidade de dizer isso. É horrível você entrar em um restaurante e ter o lugar todo olhando para você, sabendo o que eles estão dizendo. Eu me tranquei para longe até eu estar confiante e confortável novamente.”
Um mês após ela comprar sua casa própria, Gomez também se despediu de sua mãe como manager, uma transição da idade que ela descreve como “estranha”. Ela e Teefey se encontraram como colegas novamente em uma produção secreta para um programa de TV e um filme adaptação de um livro, Love in the Asylum. Na época, no entanto, “Senti como se tivesse perdido tudo”, ela diz. “Só porque não está publicado em todos os lugares não quer dizer que eu não atingi o fundo do poço. Eu tive os meus momentos, e é quase que perigoso eu falar sobre eles, porque eu senti que podem se aproveitar de mim.”
Tomando minha bebida russa de mirtilo durante o almoço, Gomez diz, “Eu nunca tive um problema com bebida”. Mas ela confessa que já esteve “extremamente insegura” sobre sua voz rouca, e ela sente que já foi “pisoteada” algumas vezes, particularmente quando pessoas próximas a ela criticaram sua aparência. “Como uma mulher, especialmente, você espera isso da indústria”, ela diz, “mas de pessoas que você escolheu amar, isso foi decepcionante”.
Gomez superou isso tudo com uma visão mais profunda e crítica do mundo, possivelmente formada por sua “obsessão” com a comédia feminista de Amy Schumer. (Ela também foi inspirada por Girls, mesmo antes de Lena Dunham se juntar ao grupo de amigas: “Eu comecei a falar com sua personagem. Eu dava voltar e tentava fazer piadas sarcásticas rapidamente”.) Respeitando sua herança mexicana, ela diz, “É ótimo ter uma voz” em uma cultura tão “masculina”. E enquanto ela “não consegue evitar de sentir-se de certa forma” ao ver Justin Timberlake ou Usher sem camisa, ela vê um padrão duplo na indústria. “Se eu fizesse metade das coisas que os homens fazem, eu não teria um contrato com a Pantene”, diz Gomez. “Há certos padrões nos quais as mulheres são colocadas porque…eu não sei. Tantas mulheres falam sobre isso hoje em dia. Precisamos causar um tumulto, porque eu já vi isso. Eu vivenciei. É absurdo.”
Gomez usa um trecho da banda gospel Hillsong para ilustrar onde ela está agora: “Eu toco o céu com os meus joelhos no chão”. A lúpus está controlada, e ela diz que a chave para se manter saudável é “ter uma dieta, rotina e medicação”, além de manter os amigos certos ao seu lado. Quando ela se decepcionou durante as gravações de Revival em Março, ela juntou um grupo de “suas pessoas favoritas”, os compositores de Good For You, Julia Michaels e Justin Tranter, os produtores Rock Mafia e Hit-Boy, alguns amigos e viajou para o México.
“Todo dia era um evento”, diz Michaels. “Nós andamos de barco, andamos de jet-ski, de quadricíclos, vimos shows ao vivo.” E Gomez, diz Tranter, “fez todos assistirem Verdade ou Desafio”. Mas o mundo lá fora a atingiu fortemente quando os paparazzis a fotografaram na praia, quando manchetes como “Gostosa ou Gorda?” surgiram e comentários no Twitter surgiram. “Eu estava de biquíni e foi publicamente criticada por estar acima do peso”, relembra Gomez. “Foi a primeira vez em que eu vivenciei criticas ao corpo desta forma. Eu acreditei em algumas palavras que eles estavam dizendo. Quando outra pessoa tem sua auto-estima em mãos…..”, ela lacrimeja. Posar nua para a capa de Revival foi uma forma de tomar o controle. Ela diz que a faz sentir como Linda Ronstadt nos anos 70, livre.
Gomez adora sua casa agora. Ela faz sessões de filmes (a mais recente: Jovens, Loucos e Rebeldes) e frequentemente cai no sono em sua sala de cinema. Quando Swift a visita, “nós cozinhamos, comemos e sentamos perto da lareira”, diz Gomez. “Vinho está normalmente envolvido”. Ela também tem comprado aplicativos para buscar fantasmas (“Eu adoro me assustar”) e tem duas novas tatuagens: um “g” cursivo atrás de sua orelha esquerda para sua irmã de 2 anos Gracie e um símbolo em seu quadril esquerdo simbolizando a data em que ela conheceu Ashley.
Gomez também irá aparecer em um novo filme, In Dubious Battle, dirigido por seu colega de Spring Breakers James Franco. “Selena interpreta uma jovem mãe”, diz Franco. “Ela tem uma cena de parto em um chalé, e o meu personagem faz o parto. Foi como uma performance de arte ou algo assim. Ela surpreendeu a todos.” Com seu novo álbum prestes a ser lançado, Gomez diz que se sente como “uma grávida de nove meses”. “Estou morrendo para que ele seja lançado”.
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