Na manhã desta sexta-feira (10), o Apple TV+ disponibilizou em seu catálogo a participação que Selena Gomez realizou no seriado documental intitulado “Dear…”. A produção versa, de modo inovador e cinematográfico, a biografia de nomes renomados no âmbito social contemporâneo. Na série, são lidas cartas vindas de pessoas cujas vidas foram impactadas pelo trabalho dessas celebridades que marcaram as esferas nas quais estão inseridas. No recém-chegado 10° episódio da segunda temporada, a estrela por trás de “Lose You to Love Me” e “Only Murders in the Building” fala sobre sua trajetória de autoaceitação e saúde mental enquanto lê as cartas selecionadas. Confira um resumo abaixo:
É muito estranho. Não vivo uma vida normal. Faço coisas normais. Sou muito normal, mas não vivo uma vida normal. Fazer tanto sucesso cedo foi demais, mas comecei a reconhecer isso com a plataforma que foi me dada. Eu pude direcionar a atenção ao que realmente era importante para mim. Acredito que tenho um propósito muito maior do que eu mesma. Estou aqui para viver a vida, compartilhar essa vida, e, tomara, permitir que as pessoas acreditem em algo maior e se sintam amadas.
Na infância, sempre quis mais. Vivia dizendo: “sem dúvida, há mais e quero ver, quero fazer mais”. Fui criada no Texas e minha mãe me levava a museus e a peças. Ela tinha uma imaginação destemida e natural e queria que a tivesse também. Sou grata por isso, pois, agora, minha vida toda é um faz de conta. Quando era criança, amava atuar. Olho para minhas coisas mais antigas e dou risada, porque eu era uma criança que estava tentando, sabe?! Caçoavam muito de mim. Como não fazer isso?
A atuação foi uma grande parte da minha vida que me moldou. Era tão puro. Aprendi muito, mesmo com as partes boas e ruins com que veio, já que, durante aquele período, surgiu um interessante na minha vida que não curti muito. A mídia e a imprensa começaram a se tornar opressoras. Fotógrafos apareciam nos sets de gravação e eu acabava muito nervosa. Fiquei superansiosa ao experienciar aquilo pela primeira vez. Eu não queria ser uma manchete.
— Selena Gomez
Após a introdução ao episódio comentando sua história e carreira, a atriz comenta sobre a obrigação de ser um exemplo para as crianças quando se assina com a Disney, que suas ações eram monitoradas muitas vezes pelo material que apresentava e se via muito limitada.
Em seguida, fala sobre como amadureceu, apesar do medo de crescer e tomar novas decisões voltadas à sua criatividade. Em meio a declarações, a artista discorre sobre como o disco “Revival”, primeiro lançado sob o selo da Interscope. Para ela, foi um divisor de águas à medida que se tornou melhor reconhecida e ouvida enquanto mulher. Isto é, não era mais vista como uma pequena garota na metade da adolescência.
À frente, Gomez conta que estava fazendo sucesso. Contudo, não estava bem. Embora não soubesse a razão, ela sentia as coisas de forma mais intensa que as demais pessoas. Foi quanto aprendeu, então, que saúde mental era tão importante quanto saúde física, o que lhe possibilitou desenvolver grande empatia e compaixão pelas pessoas que estão sofrendo, por entender e saber um pouco sobre como é. Ela cita sobre como é dito que a música é a linguagem universal e que, em termos de barreiras linguísticas, quase não existem. Para ela, é uma conexão enorme e uma tábua de salvação para os que ama e para si mesma.
A primeira e segunda cartas lidas são de:
Mariana, uma jovem natural de Bogotá, cidade capital da Colômbia. Em sua escrita, declara vir de uma família latina muito unida e que teve uma ótima infância, mas adoeceu quando chegando ao Ensino Médio. Ela se lembra de estar ao lado de sua mãe, passando por diferentes médicos a fim de descobrir o que estava acontecendo. Apesar de seus diagnóstico de depressão, sentiu-se retraída; a doença em questão não é um assunto discutido em seu país. Anos depois, ela se viu obrigada a retornar para casa da faculdade. “Meu fundo do poço foi tentar suicídio”, ela diz.
“Selena, você foi tão transparente em relação à sua jornada. Era tópico de conversa. Ajudou muito e me fez pensar: ‘queria mostrar aos colombianos que não existe motivo para ter vergonha de passar por terapia’. Comecei a escrever sobre meus problemas e artigos on-line como um modo de me curar e encontrar ordem em meio ao caos. Sinto-me reconhecida pelo mundo novamente. Não me escondo de um diagnóstico de saúde mental. Hoje, sou psicóloga e uma ativista entusiasmada da saúde mental”.
Jake, um jovem musicista de Sayville, Nova York. Em sua mensagem, conta acerca de como crescer na cidade foi sufocante por se tornar a criança que teve que lidar com o bullying logo cedo, tão cedo que mal se lembra quando tudo inicio e o medo de se deparar com possíveis ataques tomou anos de sua vida a partir daí. Chegando à 9ª série, aderiu à terapia e foi diagnosticado com um transtorno de ansiedade. Ele narra ter apoio da família; no entanto, ainda vê obstáculos, já que quem não sofre com a ansiedade tem dificuldade em realmente compreender. Em seu último ano na faculdade, participou e apresentou um trabalho de prevenção ao suicídio.
“Sempre fui seu fã. Sempre que sentia a ansiedade aparecer, ouvia seu álbum ‘Revival’, o que me fazia me sentir melhor todas as vezes. Foi quando ouvi seu discurso de agradecimento no American Music Awards. Você falou sobre suas próprias dificuldades com a saúde mental, e disse ‘se vocês estiverem machucados, não precisam permanecerem machucados’. Impressionante. Lá estava você, uma pessoa superfamosa, afirmando: ‘passei por isso e me recuperei’. Senti que suas palavras resumiam meus sentimentos. Fez-me pensar que quero realizar mais…. Hoje posso disseminar sua mensagem. São tão agradecido a você, Selena, por ter dado esperança a mim e ao mundo ao compartilhar suas dificuldades”.
No segundo bloco, a cantora relembra como descobriu ter lúpus, momento no qual revelou saber pouco sobre a doença. Quando ouviu dos médicos que ela poderia ter tido um AVC ou morrido estando nos palcos, sentiu-se sobrecarregada. Entretanto, não queria processar toda a informação. Em seguida, trouxe à tona como seu peso variava constantemente devido a medicações que utilizava para minimizar os sintomas do lúpus e que as pessoas faziam suas suposições e procuravam motivos para abalá-la. Ela reflete, ainda, sobre como era humilhada por engordar e que, embora postasse várias fotos com legendas dizendo “se amar e se aceitar”, “não aceito o que está dizendo” e há mais do que isso”, por dentro, ela se sentia péssima e chorava muitas vezes.
Um dos intervalos mais difíceis de sua vida foi quando correu grandes riscos em decorrência do lúpus, que começou a prejudicar diretamente seus rins. À época, ela se viu em necessidade de um transplante. Em determinado dia, ela chegou em casa chorando e contou a Francia, uma de suas melhores amigas, o que estava acontecendo. Ela prontamente se ofereceu para ser testada para compatibilidade e o exame voltou positivo. Atualmente, Selena mostra como se viu amparada, agradece à amiga e cita “não poder estar em maior débito possível” pela doação do rim que salvou sua vida.
As terceira e quarta cartas lidas são de:
Wendy, uma jovem de Torrance, Califórnia. Em seu registro, ela discorre sobre como possui um laço que compartilha com Selena: ela nasceu no Texas. Além disso, também luta contra o próprio lúpus.
“Selena, não sei como se sentiu quando recebeu o diagnóstico. Eu, pelo menos, fiquei aliviada. Sabia que minha condição tinha um nome. Lúpus é a doença invisível. Não parece que há nada de errado conosco. Veja você nos tapetes vermelhos. Aparentamos estar normais, bonitas, maravilhosas. Até não estarmos mais. Você já deve ter escutado perguntas questionando se realmente estava doente. Eu tenho lúpus sistêmico e uma crise atacou meus rins, o que me fez me submeter a hemodiálises durante anos. Isso me leva a segunda coisa que temos em comum, Selena. Também tenho um rim transplantado. Você ter discursado sobre isso me fez ir atrás e conquistar o melhor atendimento possível, pois sabemos que a comunidade negra é a mais atingida. Hoje, trabalho pera a Lupus Foundation of America”.
Raquel Willis, uma escritora e ativista trans de Brooklyn, Nova York. Em sua correspondência, aborda sobre seus trabalhos como ativista da comunidade trans negra, buscando oferecer-lhe maior dignidade e inserção nos inúmeros ambientes sociais existentes.
“Pessoas trans ainda são muito discriminadas na sociedade. Selena, sempre senti que você era um exemplo. Antes de virar moda as pessoas dividirem o microfone, você estendeu sua plataforma para dar voz a líderes negros engajados na justiça. Nós, indivíduos trans, não só enfrentamos a ameaça constante da violência do Estado, também sofremos onde vivemos. Em 13 de junho de 2020, você me concedeu a oportunidade de usar sua conta do Instagram. Eu sabia que não era pouca coisa para você. Afinal, você tem uma enorme audiência global. Pude compartilhar a história de ativistas negros trans. Não foi uma exposição pessoal, mas, sim, a de nosso movimento. Selena, obrigada por nos mostrar o que significa ser líder e se envolver em um mundo em que os negros trans precisam de você”.