Pela segunda vez em 2016, Selena Gomez estampa a capa da revista mais importante do mundo da moda, a VOGUE (a primeira foi em junho, na versão brasileira). Agora, a cantora é a garota da capa na edição de setembro da versão australiana da revista. Na entrevista, Selena fala sobre sua carreira como atriz, sua nova fase na música, moda e muito mais. Para a photoshoot da revista, a estrela foi maquiada por Hung Vanngo, estilizada por Sally Lyndley e fotografada por Emma Summerton. Confira as scans, as fotos da edição e a tradução da matéria na íntegra:
A subida de Selena
Ela é uma cantora superstar, atriz e a pessoa mais seguida do Instagram, ainda assim, o charme fácil de Selena Gomez faz você se sentir como uma de suas amigas, escreve Zara Wong.
Selena Gomez está tentando me explicar que é uma garota normal. Tenho minhas dúvidas, natualmente. Esta é a garota cujo álbum mais recente, Revival, está recheado de músicas no topo das paradas que você não consegue tirar da cabeça. O tipo de música com vocais roucos e abafados que te fazem perguntar: “Quem está cantando?”. Você pode ser surpreendido ao descobrir que é uma menina com a qual ninguém que tenha menos de 21 anos tenha crescido, que está nas telinhas desde os sete anos de idade – dançando com um grande dinossauro roxo chamado Barney – antes de progredir para uma estrela num seriado da Disney quando era adolescente. Agora ela é famosa o suficiente para interpretar a si mesma no filme nomeado ao Oscar “A Grande Aposta”, jogando uma brilhante partida de blackjack com o economista Dr. Richard Thaler.
Os preparativos para nossa entrevista parecem normais o suficiente. Selena está fazendo uma conferência via Skype de seu quarto de hotel – mas o quarto é indescritível, não tem aquela áurea brilhante que imaginamos que cerque uma estrela do pop e atriz, e ela está vestida casualmente como qualquer mulher de sua idade. Com uma camiseta grande de um time de basquete, sem maquiagem e seu grande cabelo amarrado num rabo-de-cavalo parece muito mais nova do que seus atuais 23 anos (nos falamos apenas um mês antes de completar 24). Ela me garante que vestida desta forma consegue viver como uma Selena Gomez normal, ela, que tem mais de 89 milhões de seguidores e é oficialmente a pessoa mais seguida do Instagram. “Se eu chegasse num shopping com quatro seguranças enormes, cabelo feito e salto alto, obviamente as pessoas perguntariam ‘quem é aquela?’”, diz atrevidamente com sua alegria americanizada. “Então você vê como estou vestida, é mais fácil. Talvez as pessoas percebam [que sou eu], mas geralmente eu consigo fazer o que tenho de fazer durante o dia”.
Um alívio sobre Selena Gomez é que você não tem que ser cuidadoso na hora de fazer uma pergunta. Isso faz dela uma das pessoas mais intrigantes de se entrevistar. Celebridades não são seus amigos, então você tem que abordá-los com cinismo; você tem que desafiá-los para conseguir a história. Mas Gomez tem uma qualidade que faz você se sentir como se estivesse conversando com um amiga. Ela está namorando alguém? Por que não? Ela está irritada com estes rumores? E tipo, sério Selena, como vai no trabalho? Estou a ponte de dizer a ela que deveríamos sair qualquer hora dessas quando ela estiver em Sydney (vergonha).
“Com a atuação, uma das maiores dificuldades é minha vida pessoal”, ela diz. Este é um dos assunto nos quais ela vai direto ao ponto e se concentra em ser estereotipada por estar constantemente na mídia e como isso afeta as chances de ser levada a sério como atriz. (O estereótipo afeta seus relacionamentos também, mas falaremos disso mais tarde). Ela não é modesta sobre suas ambições na atuação; ela me conta que seus diretores favoritos são David O. Russell, David Fincher, Martin Scorsese e Damien Chazelle. “Qualquer um destes diretores que falei jamais vão pensar em mim como primeira opção para um papel”, diz desajeitadamente. “Ainda tenho muito a provar”.
Passou pela minha mente que os dois Davids que ela mencionou se destacaram por trazerem mulheres fortes para as telas, criando papeis definidores de carreira para mulheres como Jennifer Lawrence (que trabalhou com David Russell em O Lado Bom da Vida, Trapaça e Joy) e Rooney Mara (que trabalhou com David Fincher em Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres) e Rosamund Pike (com Fincher em Garota Exemplar). Papéis que Gomez facilmente colocaria no topo da sua lista de desejos.
O vastamente andado caminho de princesa da Disney para cantora e atriz lapidada e independente é incerto e cheio de contratempos e decisões disfarçadas para mostrar uma artista “crescida”. Créditos a Gomez, então, já que ela saiu desta intacta, certa de seu próximo passo. Seu próximo projeto é uma série para a Netflix, na qual ela está trabalhando, não como atriz, mas como produtora, ao lado do diretor Tom McCarthy, que dirigiu e co-escreveu Spotlight, com roteiro do Prêmio Pulitzer [de jornalismo] e o vencedor do Tony Award, Brian Yorkey. Nada mau.
O fator “mulher forte” pode estar longe de suas atuais conquistas na carreira como atriz, em contrapartida, em sua música, ela se mostra mais confiante em uma arena. Seu último álbum é uma maneira de dar um recomeço às conversas sobre ela. “Eu acho que foi apenas um passo na direção correta, estou orgulhosa disso. Uma vez que eu provei desta água eu fiquei tipo: ‘Ok, eu estou construindo quem eu sou e tive que escrever este álbum, é tudo sobre mim’”, ela diz. “Quando é sobre minha música, tudo que eu queria era ter certeza de estar sendo autêntica e sendo eu mesma, e eu aproveitei a chance com este álbum. Eu acho que ele [o Revival] mudou a perspectiva de muita gente, mas tenho certeza de que algo que ainda permanece é o questionamento sobre minha aptidão de fazer o que eu amo fazer”.
Sua voz não é como de alguma garota de coral, e não tem a mesma flexibilidade que a de Céline Dion – a quem Gomez admira – mas é cheia de verdade e camadas de pureza que permitem que ela transmita emoções de uma forma capaz de separá-la de outras cantoras de sua categoria. A qualidade de garota-real brilha mais. De seu álbum Revival, ela selecionou Good For You, uma decisão consciente que desafiou os desejos de sua gravadora para dar o tom de sua transformada carreira musical. Para fazer uma contextualização, seu álbum de estreia, Stars Dance, produzido pela Hollywood Records da Disney, desviou-se pesadamente para o lado do pop-dance-eletrônico. A palavra “genérico” foi consensual na crítica especializada. Para dirigir o videoclipe de GoodForYou, ela selecionou Sophie Muller que colabora há tempos com Annie Lennos e Gwen Stefani. Ela escolheu Muller porque pensou que ter o primeiro videoclipe dirigido por uma mulher daria o tom certo, permitindo que o total empoderamento da sensualidade feminina pudesse brilhar. Em seus últimos vídeos, Gomez está majoritariamente sozinha, sem um interesse amoroso significativo. A história aqui é menos sobre o romance e mais sobre a mulher.
A gravadora havia solicitado SameOldLove como o primeiro single, por causa do assunto abordado. Houve murmúrios (na verdade, foi gritado pela mídia) que a canção seria sobre seu ex-namorado, Justin Bieber, a quem ela começou a namorar quando tinha 18 anos. (Gomez não confirmou, mas também não negou os rumores, então você tire suas conclusões das seguintes frases da cantora). “Eu estava tão radiante que eu não queria que [o clipe] fosse minha história”, ela explica. “SameOldLove é tão óbvio sobre seu significado, é o ciclo de todo relacionamento vicioso. E mesmo que seja uma grande narrativa sobre a minha vida, eu me senti tão confiante sobre Good For You [ser o primeiro single] que poderia soar como… (aqui, falando sobre Same Old Love, ela faz uma pausa dramática) “estou irritada e isso é exaustivo”. Eu acho que qualquer garota se sentiria assim”.
Sim, é algo que qualquer garota sentiria – e é a ampla acessibilidade de Gomez que faz dela uma dádiva para os fãs. Até onde eu (gosto de pensar relativamente bem) sei, isso não é maquinado, “Eu realmente nunca quis ser intocável, por que nunca me senti dessa maneira. Quando eu olho a Beyoncé, fico em estado de choque e admiração”, ela diz. “Você sabe, ela é incrível e eu sinto como se ela fosse um camaleão: pode ser qualquer coisa e tudo, mas ela tem essa qualidade de ser quase intocável”.
Abençoada – ou afligida, depende da sua visão – com o tipo de rosto que pode facilmente ser uma década mais nova que a sua idade atual, seus grandes olhos e sua face de boneca podem ser americanos, quentes e sexy (um alter-ego que ela gosta de se afeiçoar) ou algo entre isso. Graças à mistura de herança hispânica e italiana, ela pode se transformar de uma jovem garota para uma mulher sexy, fazendo seu apelo ser vantajosamente mais extenso. Sua mãe, Mandy Teefey, teve Gomez quando tinha 16 anos. “Eu lembro de olhar as fotos dela de quando e ela vestia basicamente o que estou usando agora, apenas uma jovem normal com uma criança em seus braços”, ela disse. “Quando eu tinha a aquela idade eu estava no set e tinha que fazer algumas crianças rirem no meu programa de televisão.”
Existe um número de coisas que parecem ser inevitáveis de não citar em uma entrevista com Selena Gomez: Disney, Bieber, dominação do Instagram e tabloides. Imagine aqueles dias constrangedores entre sua adolescência e seus recentes 20 anos expostos para o mundo? Admitir que foi para a reabilitação por ser um lugar distante da vida pública, e o único lugar onde você tem tempo e espaço para se recuperar de um tratamento quimioterápico após um diagnostico de lúpus (como Gomez fez em 2014)? Ter algum cara que você namorou quando adolescente te enchendo de mensagens, e esse relacionamento voltar de novo e de novo e de novo?
“Por um tempo minha vida privada foi a coisa mais falada”, disse Gomez, como um machado que ela tem sempre que amolar. “Ninguém realmente sabe de tudo, eles podem apenas supor. Você quer fazer o que gosta, mas as sombras de todas essas outras coisas torna isso um pouco mais difícil para as pessoas me levarem a sério”. Ela fica menos nervosa em falar sobre isto agora do que ficava no passado, e ela tem consciência de que as entrevistas estão se tornando cada vez menos sobre sua vida pessoal e mais sobre seu trabalho. “Eu percebi que isto é apenas temporário. Feliz ou infelizmente, minha vida se encontra neste estágio agora, e eu tenho que aceitar isso”.
Sobre namorar, ela diz não ter tempo agora. “Mas eu gosto de me divertir, eu gosto de sair”, ela provoca com uma leve levantada de sobrancelhas. Mas, ela adiciona: “Os rapazes que são confiantes o suficiente para chegarem em mim não fazem necessariamente meu tipo, mas eles pensam que fazem, porque eu sou uma estrela do pop, porque eu canto, porque eu faço filmes, porque eu gosto de me sentir sexy e confiante no palco. Eu ficaria feliz com um escritor ou produtor ou ator pouco conhecido, mas esse tipo de cara tem medo de mim!”.
Ela tem namorado em segredo, só para seus amigos “porque eu penso que as pessoas achariam que é estúpido [me namorar]. Ninguém ia querer se jogar numa situação que é tão altamente pública, tipo, por que eles fariam isso?”, ela tacha. “Eu acho que se eles realmente me amassem, eles fariam isso, mas ainda não conheci ninguém assim”.
Talvez, afinal de contas, ela seja realmente como o resto de nós.
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